APRESENTAÇÃO OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO PROGRAMAÇÃO PESQUISADORES TRABALHOS VÍDEOS ORGANIZAÇÃO
TRABALHOS
Alexandre Fiuza
(UNIOESTE)
Título: “Você corta um verso, eu escrevo outro”: a censura musical na ditadura civil-militar (1964-1985)
Resumo: Esta apresentação aborda a censura musical no Brasil durante a ditadura militar (1964-1985). Tal pesquisa foi realizada a partir da consulta e análise do material obtido junto ao Fundo da Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), sediado no Arquivo Nacional em Brasília, bem como no Rio de Janeiro. Além do exame desta documentação oficial, também nos pautamos na análise da discografia, da bibliografia e de entrevistas com músicos que foram censurados. Igualmente o tema a ser apresentado se baseia em outras fontes advindas, como nos arquivos das Delegacias de Ordem Política e Social (DOPS) dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraíba. Aqui, a censura é também entendida como uma política de formação cultural, pois, ao filtrar a produção artística e intelectual, produzia ou inviabilizava discursos contrários ao status quo, gerando resultados perniciosos não somente para os músicos, mas igualmente para os ouvintes.
Artur Correia de Freitas (UFPR)
Título: Arte de vanguarda e resistência cultural
Resumo: No campo artístico, parte considerável dos discursos de vanguarda produzidos no Brasil na passagem dos anos 1960 aos 1970 sustenta-se pela pretensa aproximação da arte com as pressões da realidade social. Daí, inclusive, parte de sua carga inevitavelmente “política”, dada a consideração direta de um entorno material desencantado e opressor. Para os limites desta apresentação, pretende-se compreender o processo de arregimentação, difusão e ocaso do projeto de uma arte de vanguarda nacional, tendo como eixo os diversos modos de relação entre arte experimental e resistência política, com ênfase nas demandas impostas pelo Ato Institucional n°. 5 (AI-5), de dezembro de 1968.
Carlos Fico (UFRJ)
Título: As censuras do regime militar
Resumo: O regime militar contou não com uma, mas com duas censuras: uma de natureza “revolucionária”, no sentido que os militares atribuíam ao termo, isto é, “excepcional” e voltada sobretudo para a ocultação de temas propriamente políticos. Outra, preexistente, legalizada, de natureza moral, voltada sobretudo para a censura das “diversões públicas” (música, cinema, televisão e teatro, principalmente). A primeira era ocultada da população, a segunda contava com grande visibilidade e, muitas vezes, com o apoio de parte da sociedade. Essas censuras devem ser entendidas em correlação com o que tenho chamado de “pilares básicos” da ditadura militar, a saber, em conjunto com a repressão tout court, com a espionagem, a propaganda política e outras formas de intimidação. Ademais, seu estudo permite entender que a percepção de uma sociedade vitimizada, segundo a qual, no período, a sociedade foi vítima da repressão, é simplificadora, pois, além do apoio eventual, empresários, artistas e outras pessoas diversas vezes negociaram com a censura, tentando minimizar seus prejuízos.
Fernando Seliprandy Fernandes (USP)
Título: Ausências, lacunas e interditos: documentários de filhos de ex-militantes
Resumo: Em tempos democráticos, o fim da censura oficial às artes não significou o fim dos interditos que rondam as imagens do período autoritário. Os documentários contemporâneos realizados por filhos de ex-militantes de esquerda têm em seu núcleo a ausência dos pais, seja ela motivada pelo exílio, pelo desaparecimento ou pela morte. Nesse núcleo, para além das proibições, estão implicados os dilemas da representação da dor da perda. Diário de uma busca (Flavia Castro, 2010) e Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2012) estarão no centro das reflexões sobre os impasses e as apostas dessa forma documental contemporânea. A ideia é que esses filmes, voltados à memória de ausências íntimas, são um campo fértil para se pensar as lacunas históricas atuais da democracia brasileira. Afinal, passados 50 anos do golpe e após quase três décadas de democracia, seguem vigentes no Brasil as interdições à Justiça contra assassinos e torturadores.
Francisco Alambert (USP)
Título: As artes visuais e a ditadura: Mário Pedrosa de lá para cá
Resumo: A ditadura civil-militar, a censura e os arranjos políticos do período, desmontaram o projeto moderno de uma arte de vanguarda brasileira e revolucionária. Os embates e as transformações desse processo marcaram duramente a trajetória final do mais importante crítico de arte (e militante político radical) brasileiro daquela época, Mário Pedrosa. Através de uma análise histórica de sua atuação neste contexto (que envolvia o Brasil, o Chile de Allende e a França), serão discutidos os impactos da ditadura na cultura brasileira através das particularidades das artes visuais.
Jardel Dias Cavalcanti (UEL)
Título: A representação da tortura e do assassinato: corpo e morte de Vladimir Herzog nas artes plásticas
Resumo: Dois artistas expressaram o impacto que a morte do jornalista Vladimir Herzog causou durante a ditadura militar. No “calor da hora”, foram eles, Cildo Meireles e Antonio Henrique Amaral, os artistas que tocaram na ferida desse crime. Os dois, de forma exemplar, demonstraram com suas obras que, sem abandonar a autonomia da linguagem plástica, era possível cruzar a manifestação estética e a política, sedimentando uma criação artística participante. Colocando em questão a versão de suicídio, tal qual divulgada pelos militares, esses artistas insurgem nessas obras também contra a prática da tortura e do assassinato de todos os opositores da ditadura. É o momento em que a arte, enquanto objeto da cultura, se fundamenta não só nas questões da estética, mas também na necessidade da participação política.
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Título: Pra não dizer que não falei das flores: Geraldo Vandré e o poder da canção
Resumo: Pra não dizer que não falei de flores, mais conhecida como Caminhando, foi defendida por Geraldo Vandré ao violão no III Festival Internacional da Canção, realizado pela TV Globo em setembro de 1968. Proibida por praticamente uma década, tornou-se hino de organizações estudantis e de trabalhadores, foi regravada por diferentes intérpretes (de Simone a Charlie Brown Jr., passando por Luiz Gonzaga e Zé Ramalho) e mesmo utilizada como jingle de comerciais. Mesmo com tudo isso, Pra não dizer que não falei de flores continua, como Vandré, carecendo de uma interpretação crítica mais atenta. Pretendemos apresentar alguns pontos que reconhecemos como essenciais para a interpretação desse importante marco na história da canção e da esquerda brasileira.
Márcia Neme Buzalaf (UEL)
Título: Um outro olhar: a representação feita pelo New York Times sobre a censura ao Pasquim
Resumo: A abertura dos arquivos sobre a ditadura civil-militar no Brasil amplia as possíveis compreensões sobre o período e são imprescindíveis para a consolidação e fortalecimento da sociedade civil. Para evitar mantos de escuridão, buscam-se documentos oficiais e pessoais que registrem as representações sobre o autoritarismo, bem como a heterogeneidade de visões sobre a imprensa censurada. Com a digitalização do acervo de jornais estrangeiros, foi possível encontrar textos jornalísticos no The New York Times sobre os anos mais violentos do regime e trazer informações produzidas naquele período com uma visão de fora, principalmente sobre o jornal O Pasquim, seus redatores e colaboradores. Entre 1969 a 1975, quando havia censura prévia ao semanário carioca, foram publicadas cinco reportagens no jornal norte-americano que carregam registros sobre a ação dos censores e dos jornalistas brasileiros.
Marcos Napolitano (USP)
Título: Coração Civil: arte, resistência e lutas culturais durante o regime militar brasileiro (1964-1980)
Resumo: A estratégia de oposição ao regime militar colocou na ordem do dia a necessidade de conexão entre cultura e política, à medida que a primeira funcionava como espaço de rearticulação de identidades, valores e estratégias de ação que alimentavam a segunda. Naquele contexto, entre os anos de 1960 e 1970, a resistência cultural ao regime militar foi protagonizada por quatro variáveis ideológicas, agrupando os seguintes atores: liberais, comunistas, movimentos contraculturais e Nova Esquerda. As quatro correntes protagonizaram alianças e dissensos, expressando visões diferenciadas e muitas vezes conflitantes sobre o papel das artes e da cultura na oposição ao regime, que vai além da visão homogênea e idealizada da noção generalizante de “resistência”. Portanto, o objetivo básico desta tese é esquadrinhar e analisar os debates entre as correntes citadas a partir das principais produções culturais entre 1964 e 1980, período crucial de redefinições dos agentes socioculturais em face do autoritarismo e da modernização na sociedade brasileira. Como hipótese central, afirma-se que o eixo da ação dominante na resistência cultural era baseado na estratégia de construção de uma frente político-cultural. Esta foi produto de uma aliança estratégica, ainda que permeada por conflitos, entre liberais e comunistas. O frentismo cultural se construiu sobre três pilares: a) ocupação dos circuitos mercantilizados e institucionais da cultura; b) busca de uma estética nacional-popular; c) afirmação do intelectual como arauto da sociedade civil e da nação. Ao rejeitar e criticar estes três pilares, os movimentos ligados à Contracultura e os movimentos culturais ligados à Nova Esquerda ajudaram a desgastar e inviabilizar o “frentismo cultural” como estratégia comum na superação do regime militar, explicitando seus impasses.
Miliandre Garcia (UEL)
Título: “Ou vocês mudam ou acabam”: censura teatral no regime militar
Resumo: Na história do Brasil, é comum associarmos a existência da censura ao Estado Novo e ao regime militar. Porém, a censura no Brasil é um fenômeno antigo, com atuações diversificadas. A censura teatral foi instaurada no Império, embora o auge desse processo tenha ocorrido na década de 1940 com a criação do Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP). Até a década de 1960, a censura de diversões públicas era responsabilidade dos estados, regia-se por legislação ostensiva e atuava na esfera da moral e dos bons costumes, com alguma incursão nas questões políticas. Com o golpe de 1964, a atividade censória passou por um processo de ressignificação que consolidou a centralização do órgão em Brasília e incorporou a prática da censura política. Ao papel de mantenedora dos princípios éticos e dos valores morais, motivos alegados no momento de criação do órgão na década de 1940, agregou-se a preocupação com a manutenção da ordem política e da segurança nacional, justificativas incorporadas na reestruturação da censura nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Investigar como se deu este processo de politização da censura de diversões públicas, especificamente da censura teatral durante o regime militar, é nosso principal objetivo.
Rafael Rosa Hagemeyer (UDESC)
Título: Vídeo-documentário experimental Um dia nublado: crônica de um fim de semana
Sinopse: No dia 24 de março de 1979, um sábado de chuva, mais de 50 mil metalúrgicos realizaram uma assembléia no Paço Municipal de São Bernardo do Campo, depois de dez dias de greve. Apesar da intervenção federal no seu sindicato, do afastamento de seus líderes e também da interdição do estádio de futebol em que estavam acostumados a se reunir, eles estavam ali, naquele dia, manifestando sua disposição em continuar o movimento grevista, mesmo diante da intransigência do governo e dos patrões, num momento em que se anunciava a abertura do regime militar.
Construindo uma narrativa integralmente a partir de material de arquivo (imprensa, rádio, televisão e cinema), o vídeo enfoca a presença de artistas, jornalistas e cineastas que estavam ali registrando, apoiando e divulgando aquele movimento, enfrentando condições adversas (financiamento, problemas técnicos e censura), e que acabaram produzindo um material fundamental para a memória do movimento sindical brasileiro.
O documentário é resultado do projeto de pesquisa e extensão “Cinema e Sindicalismo”, coordenado pelo professor Rafael Rosa Hagemeyer (autor do livro História & Audiovisual), coordenador do Laboratório de Imagem e Som (LIS) e membro do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Rafael Villas Bôas (UnB)
Título: Teatro Político, questão agrária e ditadura: dimensão do trauma, defasagem e retomada contemporânea
Resumo: A apresentação visa articular as esferas da política e da cultura, por meio da relação entre a luta política dos movimentos camponeses dos anos 1960, como as Ligas Camponeses, com a providência do teatro político de dar forma às contradições da luta pela terra. O impacto da ditadura sobre o meio e relações de produção teatrais e sobre as articulações de classe entre camponeses, artistas, intelectuais e estudantes é devidamente caracterizado, bem como as providências de retomada em contexto contemporâneo da relação entre teatro político e questão agrária.
Reinaldo Cardenuto (FAAP)
Título: Que país é este? (1977), de Leon Hirszman: resistências à ditadura em um filme desaparecido
Resumo: Entre 1976 e 1977, contratado pela emissora italiana RAI, Leon Hirszman realizou o documentário Que país é este? Feito em parceria com o jornalista Zuenir Ventura, propondo uma colagem de obras artísticas na tradição do nacional-popular, a exemplo do filme Vidas Secas (1963) ou da peça Gota d’água (1975), o documentário procurou traçar uma ampla revisão da história do Brasil, do descobrimento até os anos 1970, assumindo um viés crítico em recusa às abordagens triunfalistas que o governo militar propagandeava em torno de seu projeto de modernização. Estruturado a partir de depoimentos concedidos por Alfredo Bosi, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Novais, Maria da Conceição Tavares e Sérgio Buarque de Holanda, todos intelectuais que à época mantinham alguma forma de engajamento contra a ditadura, Que país é este? era um documentário de denúncia das nossas contradições sociais mais agudas, no qual Hirszman propunha a articulação de um “frentismo político-cultural” em luta pela redemocratização do Brasil. Que país é este?, no entanto, nunca chegaria a ser exibido: censurado pela própria RAI, que esperava a realização de uma obra celebrativa sobre o carnaval e o futebol, o filme foi aparentemente destruído após a sua montagem. Partindo dos documentos ainda existentes em torno do filme, como a transcrição de sua banda sonora ou o contrato com a RAI, pretendo analisar esse documentário de Hirszman, propondo uma reflexão sobre como o cineasta aproximou-se, no final dos anos 1970, de uma noção de resistência próxima a do Partido Comunista Brasileiro. O estudo dessas “cascas” de Que país é este?, desse material histórico restante, permite analisar como o realizador via no “frentismo político-cultural”, na arte do nacional-popular e no realismo crítico potências que poderiam contribuir para uma desarticulação da ditadura. Questões, aliás, que depois reapareceriam em suas obras ABC da greve (1979-1991) e Eles não usam black-tie (1981).
Rodrigo Czajka (UNESP/Marília)
Título: Imprensa comunista e resistência cultural durante a ditadura militar no Brasil
Resumo: A apresentação dará enfoque ao fenômeno da imprensa comunista no Brasil e de que maneira constituiu-se uma ampla rede de jornalistas, intelectuais e escritores na construção de uma oposição ao regime militar, instaurado no Brasil em 1964. Será, por sua vez, considerada a complexa formação das esquerdas intelectualizadas que, no período em questão, esteve inserida no processo de politização da cultura, ao mesmo tempo em que seus instrumentos concatenaram-se com a indústria cultural incipiente naquele momento. O fenômeno do “esquerdismo”, os arranjos das oposições frente à vigência da ditadura militar possibilitaram a construção de um amplo e fragmentário imaginário em torno de “projetos de resistência”, hoje interpretados uniformemente sob o signo da chamada “hegemonia cultural de esquerda”.
Rosane Kaminski (UFPR)
Título: Sylvio Back nas tensões entre cinema e Estado: anos 1960-70
Resumo: A proposta é situar o posicionamento do cineasta Sylvio Back frente às movimentações que marcaram a relação do cinema com o Estado nas décadas de 1960 e 1970. Naquele contexto era visível, por um lado, o desdobramento de um cinema brasileiro politizado e esteticamente “violento” – cujos filmes de baixo orçamento e linguagem renovadora se impunham como forma de oposição ao cinema clássico e mais plenamente industrial – ao mesmo tempo em que, por outro lado, se ampliava o interesse do Estado pela produção cinematográfica em termos empresariais. Durante o regime militar, foram criados órgãos de premiação e fomento ao cinema defendendo a produção de filmes que reforçassem o estatuto industrial do cinema nacional, buscando o aumento de arrecadação nas bilheterias. Em meio a essa situação paradoxal, Sylvio Back estreou na direção de longas-metragens prometendo realizar filmes sobre temas “sérios”, mas que ao mesmo tempo se propusessem à comunicação com o público. Para avaliar a inserção desse cineasta nas tensões entre cinema e Estado, são confrontados dois tipos de documentos: a) os depoimentos e entrevistas publicados na imprensa da época e que atestaram publicamente as intenções do cineasta; b) os aspectos poéticos de seus filmes de ficção produzidos durante o regime militar, que consistem numa forma de posicionamento do autor perante as questões estéticas e políticas do seu tempo.
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Título: A censura ao humor gráfico na imprensa alternativa
Resumo: A história da imprensa alternativa no Brasil foi marcada por um período de intensa resistência e denúncia às mazelas cometidas pela ditadura civil-militar (1964-1985). Como parte das estratégias para burlar a censura imposta pelos governos ditatoriais à imprensa alternativa, o humor gráfico foi fartamente explorado nos jornais e publicações populares e contra-hegemônicos da época. Os jornais O Pasquim (1969-1991) e Movimento (1975-1981) se destacaram no uso dessa estratégia e foram responsáveis por importantes denúncias e revelações a respeito das práticas coercitivas e repressivas dos governos militares. No entanto, nem mesmo o humor gráfico passou ileso pelos censores e milhares de charges, cartuns e caricaturas foram censurados. Nesse trabalho, iremos apresentar uma reflexão a respeito da importância política do humor gráfico no contexto da imprensa alternativa e de resistência à ditadura civil-militar e analisar algumas das imagens censuradas das referidas publicações.
Sandra de Cássia Araújo Pelegrini (UEM)
Título: “Autoritarismo” x liberdade de expressão: o teatro brasileiro dribla a censura com perspicácia e bom humor
Resumo: A presente reflexão propõe um debate sobre as estratégias utilizadas por produtores teatrais, dramaturgos e atores para ludibriar os censores dos governos militares que se sucederam, entre 1964 e 1985. Para tanto, abordará o contexto da produção de algumas peças, privilegiando aquelas que, por meio de uma linguagem metafórica e bem humorada, contemplaram temáticas comportamentais consideradas imorais ou fizeram repercutir questões políticas tomadas como subversivas. A criatividade e a sagacidade dissimularam o teor das mensagens inseridas nos roteiros, diálogos, figurinos, cenários e cartazes de divulgação de inúmeras produções teatrais nesse período, sem negligenciarem os impasses estéticos e a abordagem de questões existenciais, o papel de distintos segmentos sociais brasileiros e problemas dissimulados sob a égide do progresso e da suposta democracia racial existente na sociedade brasileira.
Walter Garcia (USP)
Título: Abertura com censura, repressão econômica... e dois perigosos marginais: Clara Crocodilo e Nego Dito
Resumo: A apresentação tem por objetivo discutir as formas de duas composições: Clara Crocodilo (Arrigo Barnabé/Mario Cortes), gravada em 1980; e Nego Dito (Itamar Assumpção), gravada em 1981. Na perspectiva que se adota, a noção de forma se refere tanto à análise dos elementos que estruturam determinada obra quanto à interpretação do sentido de tal estrutura à luz do processo histórico brasileiro. Assim, os materiais sonoros que constituem cada gravação, bem como os modos como esses materiais se articulam serão relacionados ao processo histórico brasileiro que se caracteriza, em linhas gerais, pela abertura política “lenta e gradual”, pela manutenção da censura prévia, pela industrialização por iniciativa estatal, pelo endividamento do Estado junto a bancos privados internacionais, pela inflação, pelo fim do chamado “milagre econômico”, pela consolidação do mercado hegemônico de canções, pela permanência da ideia de “linha evolutiva”, pela expansão de crédito para a classe média, pelo aumento da concentração de renda, pelo crescimento urbano.
Título: “Você corta um verso, eu escrevo outro”: a censura musical na ditadura civil-militar (1964-1985)
Resumo: Esta apresentação aborda a censura musical no Brasil durante a ditadura militar (1964-1985). Tal pesquisa foi realizada a partir da consulta e análise do material obtido junto ao Fundo da Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), sediado no Arquivo Nacional em Brasília, bem como no Rio de Janeiro. Além do exame desta documentação oficial, também nos pautamos na análise da discografia, da bibliografia e de entrevistas com músicos que foram censurados. Igualmente o tema a ser apresentado se baseia em outras fontes advindas, como nos arquivos das Delegacias de Ordem Política e Social (DOPS) dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraíba. Aqui, a censura é também entendida como uma política de formação cultural, pois, ao filtrar a produção artística e intelectual, produzia ou inviabilizava discursos contrários ao status quo, gerando resultados perniciosos não somente para os músicos, mas igualmente para os ouvintes.
Artur Correia de Freitas (UFPR)
Título: Arte de vanguarda e resistência cultural
Resumo: No campo artístico, parte considerável dos discursos de vanguarda produzidos no Brasil na passagem dos anos 1960 aos 1970 sustenta-se pela pretensa aproximação da arte com as pressões da realidade social. Daí, inclusive, parte de sua carga inevitavelmente “política”, dada a consideração direta de um entorno material desencantado e opressor. Para os limites desta apresentação, pretende-se compreender o processo de arregimentação, difusão e ocaso do projeto de uma arte de vanguarda nacional, tendo como eixo os diversos modos de relação entre arte experimental e resistência política, com ênfase nas demandas impostas pelo Ato Institucional n°. 5 (AI-5), de dezembro de 1968.
Carlos Fico (UFRJ)
Título: As censuras do regime militar
Resumo: O regime militar contou não com uma, mas com duas censuras: uma de natureza “revolucionária”, no sentido que os militares atribuíam ao termo, isto é, “excepcional” e voltada sobretudo para a ocultação de temas propriamente políticos. Outra, preexistente, legalizada, de natureza moral, voltada sobretudo para a censura das “diversões públicas” (música, cinema, televisão e teatro, principalmente). A primeira era ocultada da população, a segunda contava com grande visibilidade e, muitas vezes, com o apoio de parte da sociedade. Essas censuras devem ser entendidas em correlação com o que tenho chamado de “pilares básicos” da ditadura militar, a saber, em conjunto com a repressão tout court, com a espionagem, a propaganda política e outras formas de intimidação. Ademais, seu estudo permite entender que a percepção de uma sociedade vitimizada, segundo a qual, no período, a sociedade foi vítima da repressão, é simplificadora, pois, além do apoio eventual, empresários, artistas e outras pessoas diversas vezes negociaram com a censura, tentando minimizar seus prejuízos.
Fernando Seliprandy Fernandes (USP)
Título: Ausências, lacunas e interditos: documentários de filhos de ex-militantes
Resumo: Em tempos democráticos, o fim da censura oficial às artes não significou o fim dos interditos que rondam as imagens do período autoritário. Os documentários contemporâneos realizados por filhos de ex-militantes de esquerda têm em seu núcleo a ausência dos pais, seja ela motivada pelo exílio, pelo desaparecimento ou pela morte. Nesse núcleo, para além das proibições, estão implicados os dilemas da representação da dor da perda. Diário de uma busca (Flavia Castro, 2010) e Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2012) estarão no centro das reflexões sobre os impasses e as apostas dessa forma documental contemporânea. A ideia é que esses filmes, voltados à memória de ausências íntimas, são um campo fértil para se pensar as lacunas históricas atuais da democracia brasileira. Afinal, passados 50 anos do golpe e após quase três décadas de democracia, seguem vigentes no Brasil as interdições à Justiça contra assassinos e torturadores.
Francisco Alambert (USP)
Título: As artes visuais e a ditadura: Mário Pedrosa de lá para cá
Resumo: A ditadura civil-militar, a censura e os arranjos políticos do período, desmontaram o projeto moderno de uma arte de vanguarda brasileira e revolucionária. Os embates e as transformações desse processo marcaram duramente a trajetória final do mais importante crítico de arte (e militante político radical) brasileiro daquela época, Mário Pedrosa. Através de uma análise histórica de sua atuação neste contexto (que envolvia o Brasil, o Chile de Allende e a França), serão discutidos os impactos da ditadura na cultura brasileira através das particularidades das artes visuais.
Jardel Dias Cavalcanti (UEL)
Título: A representação da tortura e do assassinato: corpo e morte de Vladimir Herzog nas artes plásticas
Resumo: Dois artistas expressaram o impacto que a morte do jornalista Vladimir Herzog causou durante a ditadura militar. No “calor da hora”, foram eles, Cildo Meireles e Antonio Henrique Amaral, os artistas que tocaram na ferida desse crime. Os dois, de forma exemplar, demonstraram com suas obras que, sem abandonar a autonomia da linguagem plástica, era possível cruzar a manifestação estética e a política, sedimentando uma criação artística participante. Colocando em questão a versão de suicídio, tal qual divulgada pelos militares, esses artistas insurgem nessas obras também contra a prática da tortura e do assassinato de todos os opositores da ditadura. É o momento em que a arte, enquanto objeto da cultura, se fundamenta não só nas questões da estética, mas também na necessidade da participação política.
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Título: Pra não dizer que não falei das flores: Geraldo Vandré e o poder da canção
Resumo: Pra não dizer que não falei de flores, mais conhecida como Caminhando, foi defendida por Geraldo Vandré ao violão no III Festival Internacional da Canção, realizado pela TV Globo em setembro de 1968. Proibida por praticamente uma década, tornou-se hino de organizações estudantis e de trabalhadores, foi regravada por diferentes intérpretes (de Simone a Charlie Brown Jr., passando por Luiz Gonzaga e Zé Ramalho) e mesmo utilizada como jingle de comerciais. Mesmo com tudo isso, Pra não dizer que não falei de flores continua, como Vandré, carecendo de uma interpretação crítica mais atenta. Pretendemos apresentar alguns pontos que reconhecemos como essenciais para a interpretação desse importante marco na história da canção e da esquerda brasileira.
Márcia Neme Buzalaf (UEL)
Título: Um outro olhar: a representação feita pelo New York Times sobre a censura ao Pasquim
Resumo: A abertura dos arquivos sobre a ditadura civil-militar no Brasil amplia as possíveis compreensões sobre o período e são imprescindíveis para a consolidação e fortalecimento da sociedade civil. Para evitar mantos de escuridão, buscam-se documentos oficiais e pessoais que registrem as representações sobre o autoritarismo, bem como a heterogeneidade de visões sobre a imprensa censurada. Com a digitalização do acervo de jornais estrangeiros, foi possível encontrar textos jornalísticos no The New York Times sobre os anos mais violentos do regime e trazer informações produzidas naquele período com uma visão de fora, principalmente sobre o jornal O Pasquim, seus redatores e colaboradores. Entre 1969 a 1975, quando havia censura prévia ao semanário carioca, foram publicadas cinco reportagens no jornal norte-americano que carregam registros sobre a ação dos censores e dos jornalistas brasileiros.
Marcos Napolitano (USP)
Título: Coração Civil: arte, resistência e lutas culturais durante o regime militar brasileiro (1964-1980)
Resumo: A estratégia de oposição ao regime militar colocou na ordem do dia a necessidade de conexão entre cultura e política, à medida que a primeira funcionava como espaço de rearticulação de identidades, valores e estratégias de ação que alimentavam a segunda. Naquele contexto, entre os anos de 1960 e 1970, a resistência cultural ao regime militar foi protagonizada por quatro variáveis ideológicas, agrupando os seguintes atores: liberais, comunistas, movimentos contraculturais e Nova Esquerda. As quatro correntes protagonizaram alianças e dissensos, expressando visões diferenciadas e muitas vezes conflitantes sobre o papel das artes e da cultura na oposição ao regime, que vai além da visão homogênea e idealizada da noção generalizante de “resistência”. Portanto, o objetivo básico desta tese é esquadrinhar e analisar os debates entre as correntes citadas a partir das principais produções culturais entre 1964 e 1980, período crucial de redefinições dos agentes socioculturais em face do autoritarismo e da modernização na sociedade brasileira. Como hipótese central, afirma-se que o eixo da ação dominante na resistência cultural era baseado na estratégia de construção de uma frente político-cultural. Esta foi produto de uma aliança estratégica, ainda que permeada por conflitos, entre liberais e comunistas. O frentismo cultural se construiu sobre três pilares: a) ocupação dos circuitos mercantilizados e institucionais da cultura; b) busca de uma estética nacional-popular; c) afirmação do intelectual como arauto da sociedade civil e da nação. Ao rejeitar e criticar estes três pilares, os movimentos ligados à Contracultura e os movimentos culturais ligados à Nova Esquerda ajudaram a desgastar e inviabilizar o “frentismo cultural” como estratégia comum na superação do regime militar, explicitando seus impasses.
Miliandre Garcia (UEL)
Título: “Ou vocês mudam ou acabam”: censura teatral no regime militar
Resumo: Na história do Brasil, é comum associarmos a existência da censura ao Estado Novo e ao regime militar. Porém, a censura no Brasil é um fenômeno antigo, com atuações diversificadas. A censura teatral foi instaurada no Império, embora o auge desse processo tenha ocorrido na década de 1940 com a criação do Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP). Até a década de 1960, a censura de diversões públicas era responsabilidade dos estados, regia-se por legislação ostensiva e atuava na esfera da moral e dos bons costumes, com alguma incursão nas questões políticas. Com o golpe de 1964, a atividade censória passou por um processo de ressignificação que consolidou a centralização do órgão em Brasília e incorporou a prática da censura política. Ao papel de mantenedora dos princípios éticos e dos valores morais, motivos alegados no momento de criação do órgão na década de 1940, agregou-se a preocupação com a manutenção da ordem política e da segurança nacional, justificativas incorporadas na reestruturação da censura nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Investigar como se deu este processo de politização da censura de diversões públicas, especificamente da censura teatral durante o regime militar, é nosso principal objetivo.
Rafael Rosa Hagemeyer (UDESC)
Título: Vídeo-documentário experimental Um dia nublado: crônica de um fim de semana
Sinopse: No dia 24 de março de 1979, um sábado de chuva, mais de 50 mil metalúrgicos realizaram uma assembléia no Paço Municipal de São Bernardo do Campo, depois de dez dias de greve. Apesar da intervenção federal no seu sindicato, do afastamento de seus líderes e também da interdição do estádio de futebol em que estavam acostumados a se reunir, eles estavam ali, naquele dia, manifestando sua disposição em continuar o movimento grevista, mesmo diante da intransigência do governo e dos patrões, num momento em que se anunciava a abertura do regime militar.
Construindo uma narrativa integralmente a partir de material de arquivo (imprensa, rádio, televisão e cinema), o vídeo enfoca a presença de artistas, jornalistas e cineastas que estavam ali registrando, apoiando e divulgando aquele movimento, enfrentando condições adversas (financiamento, problemas técnicos e censura), e que acabaram produzindo um material fundamental para a memória do movimento sindical brasileiro.
O documentário é resultado do projeto de pesquisa e extensão “Cinema e Sindicalismo”, coordenado pelo professor Rafael Rosa Hagemeyer (autor do livro História & Audiovisual), coordenador do Laboratório de Imagem e Som (LIS) e membro do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Rafael Villas Bôas (UnB)
Título: Teatro Político, questão agrária e ditadura: dimensão do trauma, defasagem e retomada contemporânea
Resumo: A apresentação visa articular as esferas da política e da cultura, por meio da relação entre a luta política dos movimentos camponeses dos anos 1960, como as Ligas Camponeses, com a providência do teatro político de dar forma às contradições da luta pela terra. O impacto da ditadura sobre o meio e relações de produção teatrais e sobre as articulações de classe entre camponeses, artistas, intelectuais e estudantes é devidamente caracterizado, bem como as providências de retomada em contexto contemporâneo da relação entre teatro político e questão agrária.
Reinaldo Cardenuto (FAAP)
Título: Que país é este? (1977), de Leon Hirszman: resistências à ditadura em um filme desaparecido
Resumo: Entre 1976 e 1977, contratado pela emissora italiana RAI, Leon Hirszman realizou o documentário Que país é este? Feito em parceria com o jornalista Zuenir Ventura, propondo uma colagem de obras artísticas na tradição do nacional-popular, a exemplo do filme Vidas Secas (1963) ou da peça Gota d’água (1975), o documentário procurou traçar uma ampla revisão da história do Brasil, do descobrimento até os anos 1970, assumindo um viés crítico em recusa às abordagens triunfalistas que o governo militar propagandeava em torno de seu projeto de modernização. Estruturado a partir de depoimentos concedidos por Alfredo Bosi, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Novais, Maria da Conceição Tavares e Sérgio Buarque de Holanda, todos intelectuais que à época mantinham alguma forma de engajamento contra a ditadura, Que país é este? era um documentário de denúncia das nossas contradições sociais mais agudas, no qual Hirszman propunha a articulação de um “frentismo político-cultural” em luta pela redemocratização do Brasil. Que país é este?, no entanto, nunca chegaria a ser exibido: censurado pela própria RAI, que esperava a realização de uma obra celebrativa sobre o carnaval e o futebol, o filme foi aparentemente destruído após a sua montagem. Partindo dos documentos ainda existentes em torno do filme, como a transcrição de sua banda sonora ou o contrato com a RAI, pretendo analisar esse documentário de Hirszman, propondo uma reflexão sobre como o cineasta aproximou-se, no final dos anos 1970, de uma noção de resistência próxima a do Partido Comunista Brasileiro. O estudo dessas “cascas” de Que país é este?, desse material histórico restante, permite analisar como o realizador via no “frentismo político-cultural”, na arte do nacional-popular e no realismo crítico potências que poderiam contribuir para uma desarticulação da ditadura. Questões, aliás, que depois reapareceriam em suas obras ABC da greve (1979-1991) e Eles não usam black-tie (1981).
Rodrigo Czajka (UNESP/Marília)
Título: Imprensa comunista e resistência cultural durante a ditadura militar no Brasil
Resumo: A apresentação dará enfoque ao fenômeno da imprensa comunista no Brasil e de que maneira constituiu-se uma ampla rede de jornalistas, intelectuais e escritores na construção de uma oposição ao regime militar, instaurado no Brasil em 1964. Será, por sua vez, considerada a complexa formação das esquerdas intelectualizadas que, no período em questão, esteve inserida no processo de politização da cultura, ao mesmo tempo em que seus instrumentos concatenaram-se com a indústria cultural incipiente naquele momento. O fenômeno do “esquerdismo”, os arranjos das oposições frente à vigência da ditadura militar possibilitaram a construção de um amplo e fragmentário imaginário em torno de “projetos de resistência”, hoje interpretados uniformemente sob o signo da chamada “hegemonia cultural de esquerda”.
Rosane Kaminski (UFPR)
Título: Sylvio Back nas tensões entre cinema e Estado: anos 1960-70
Resumo: A proposta é situar o posicionamento do cineasta Sylvio Back frente às movimentações que marcaram a relação do cinema com o Estado nas décadas de 1960 e 1970. Naquele contexto era visível, por um lado, o desdobramento de um cinema brasileiro politizado e esteticamente “violento” – cujos filmes de baixo orçamento e linguagem renovadora se impunham como forma de oposição ao cinema clássico e mais plenamente industrial – ao mesmo tempo em que, por outro lado, se ampliava o interesse do Estado pela produção cinematográfica em termos empresariais. Durante o regime militar, foram criados órgãos de premiação e fomento ao cinema defendendo a produção de filmes que reforçassem o estatuto industrial do cinema nacional, buscando o aumento de arrecadação nas bilheterias. Em meio a essa situação paradoxal, Sylvio Back estreou na direção de longas-metragens prometendo realizar filmes sobre temas “sérios”, mas que ao mesmo tempo se propusessem à comunicação com o público. Para avaliar a inserção desse cineasta nas tensões entre cinema e Estado, são confrontados dois tipos de documentos: a) os depoimentos e entrevistas publicados na imprensa da época e que atestaram publicamente as intenções do cineasta; b) os aspectos poéticos de seus filmes de ficção produzidos durante o regime militar, que consistem numa forma de posicionamento do autor perante as questões estéticas e políticas do seu tempo.
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Título: A censura ao humor gráfico na imprensa alternativa
Resumo: A história da imprensa alternativa no Brasil foi marcada por um período de intensa resistência e denúncia às mazelas cometidas pela ditadura civil-militar (1964-1985). Como parte das estratégias para burlar a censura imposta pelos governos ditatoriais à imprensa alternativa, o humor gráfico foi fartamente explorado nos jornais e publicações populares e contra-hegemônicos da época. Os jornais O Pasquim (1969-1991) e Movimento (1975-1981) se destacaram no uso dessa estratégia e foram responsáveis por importantes denúncias e revelações a respeito das práticas coercitivas e repressivas dos governos militares. No entanto, nem mesmo o humor gráfico passou ileso pelos censores e milhares de charges, cartuns e caricaturas foram censurados. Nesse trabalho, iremos apresentar uma reflexão a respeito da importância política do humor gráfico no contexto da imprensa alternativa e de resistência à ditadura civil-militar e analisar algumas das imagens censuradas das referidas publicações.
Sandra de Cássia Araújo Pelegrini (UEM)
Título: “Autoritarismo” x liberdade de expressão: o teatro brasileiro dribla a censura com perspicácia e bom humor
Resumo: A presente reflexão propõe um debate sobre as estratégias utilizadas por produtores teatrais, dramaturgos e atores para ludibriar os censores dos governos militares que se sucederam, entre 1964 e 1985. Para tanto, abordará o contexto da produção de algumas peças, privilegiando aquelas que, por meio de uma linguagem metafórica e bem humorada, contemplaram temáticas comportamentais consideradas imorais ou fizeram repercutir questões políticas tomadas como subversivas. A criatividade e a sagacidade dissimularam o teor das mensagens inseridas nos roteiros, diálogos, figurinos, cenários e cartazes de divulgação de inúmeras produções teatrais nesse período, sem negligenciarem os impasses estéticos e a abordagem de questões existenciais, o papel de distintos segmentos sociais brasileiros e problemas dissimulados sob a égide do progresso e da suposta democracia racial existente na sociedade brasileira.
Walter Garcia (USP)
Título: Abertura com censura, repressão econômica... e dois perigosos marginais: Clara Crocodilo e Nego Dito
Resumo: A apresentação tem por objetivo discutir as formas de duas composições: Clara Crocodilo (Arrigo Barnabé/Mario Cortes), gravada em 1980; e Nego Dito (Itamar Assumpção), gravada em 1981. Na perspectiva que se adota, a noção de forma se refere tanto à análise dos elementos que estruturam determinada obra quanto à interpretação do sentido de tal estrutura à luz do processo histórico brasileiro. Assim, os materiais sonoros que constituem cada gravação, bem como os modos como esses materiais se articulam serão relacionados ao processo histórico brasileiro que se caracteriza, em linhas gerais, pela abertura política “lenta e gradual”, pela manutenção da censura prévia, pela industrialização por iniciativa estatal, pelo endividamento do Estado junto a bancos privados internacionais, pela inflação, pelo fim do chamado “milagre econômico”, pela consolidação do mercado hegemônico de canções, pela permanência da ideia de “linha evolutiva”, pela expansão de crédito para a classe média, pelo aumento da concentração de renda, pelo crescimento urbano.