um caso de polícia: a censura teatral no brasil dos séculos XIX e XX (miliandre Garcia e Silvia Cristina martins de souza, 2019)
Primeira orelha (resumo do livro):
É comum falarmos em censura tendo por princípio seus efeitos e de que maneira diferentes instrumentos de controle resultam nalgum tipo de restrição das liberdades humanas. Sociedades que foram construídas a partir de um grau de racionalidade tendo como base uma ética burocrático-jurídica fortaleceram tal interpretação na medida em que a censura foi apenas compreendida a partir de uma externalidade, de uma conformação institucional que rege a ordem da moral e dos costumes. Mas hoje essa compreensão tem sido posicionada noutros termos e a censura vem sendo analisada como um fenômeno de dimensão ampla, diversificada e ambivalente. Com essa premissa, o trabalho de pesquisa de Miliandre Garcia e Silvia Cristina Martins de Souza procura pormenorizar não somente os aspectos institucionais, mas também políticos, sociais e culturais do cerceamento da liberdade no espaço da produção teatral brasileira. Na primeira parte, intitulada “A censura teatral no Brasil Oitocentista”, as autoras apresentam como o Conservatório Dramático Brasileiro atuou, direta ou indiretamente, como instrumento oficial de controle das produções em dramaturgia no século XIX, bem como os debates que orientaram seus fins censórios. Já na segunda parte, “A censura teatral na ditadura militar”, o problema da censura teatral é analisado como parte do aparato de controle institucional, mas também como espaço de disputa sobre os limites da moralidade e como censor atuava como um agente a serviço de uma espécie de dirigismo cultural do Estado autoritário. Assim, a obra contribui decisivamente para compreensão do fenômeno da censura no campo da produção teatral e interpreta o ato censório como ação com múltiplas significações sociais e culturais.
Rodrigo Czajka
Professor adjunto do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Segunda orelha (sobre as autoras):
Miliandre Garcia é licenciada (UEL), mestre (UFPR), doutora (UFRJ) e fez estágios pós-doutoral (USP e UFF) na área História. Em 2007, publicou o livro Do teatro militante à canção engajada: a experiência do CPC da UNE (1958-1964), pela Fundação Perseu Abramo. De 2008 a 2009, desenvolveu pesquisa financiada pela Fundação Biblioteca Nacional, que resultou no trabalho Um intervalo entre dois atos: a censura teatral no Rio de Janeiro na transição das ditaduras (1945-1964). Foi professora adjunta da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades da UFVJM, campus de Diamantina, e professora adjunta do Departamento de História da UEL e, através de um processo de remoção, integra atualmente o corpo docente da UEPG. Também integra e orienta pesquisas no Programa de Mestrado em História da UEPG. Transita pelos seguintes temas: arte e cultura, engajamento artístico, ditadura militar, censura e autoritarismo, resistência e políticas culturais.
Silvia Cristina Martins de Souza possui graduação (Universidade Santa Úrsula), mestrado, doutorado (ambos na Unicamp) e realizou estágios pós-doutoral (UFF, UERJ e UFRJ) na área de História. Atualmente é professora Associada do Departamento de História da UEL e integra os Programas de Mestrado em História da UEL e da UEPG, onde leciona e orienta pesquisas. É pesquisadora do CNPq (PQ nível 2), da Sociedade de Estudos do Oitocentos desde 2005, da Brazilian Studies Association (2013) e foi avaliadora do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). É autora de As noites do Ginásio: teatro e tensões na Corte (1832-1868) (2002), O palco como tribuna: uma leitura de “O Demônio Familiar” de José de Alencar (2003) e Carpinteiros teatrais, cenas cômicas e diversidade cultural no Rio de Janeiro Oitocentista: ensaios de história social da cultura (2010) e Scenas Comicas de Francisco Correa Vasques (2017). Atua nos seguintes temas: história, cultura, música, política, literatura e teatro no século XIX.
Contracapa (resumo da obra):
Compreender a censura teatral no Brasil é o escopo central deste belo livro. As autoras demonstram a partir de vasta e primorosa pesquisa documental como é possível se fazer um trabalho de história na nossa longa duração sem se deixar cair no anacronismo – o pecado fatal do historiador nas palavras de Bloch – articulando memória, teoria, arquivos e censura em dois momentos: século XIX e século XX.
Investigando a atuação do Conservatório Dramático Brasileiro no século XIX e a complexidade da censura durante o regime militar no século XX, as autoras desvelam as relações entre homens de letras e polícia bem como, fugindo das dualidades simplistas, demonstram que os censores, para além do repressivo e punitivo tinham pretensões pedagógicas e educativas, fossem essas “o civilizar” no XIX ou a construção do cidadão “morigerado” e anticomunista no XX.
Neste sentido, o leitor descobre que bons costumes, moralidade, política e censura se articulam na longa duração da sociedade brasileira, em diferentes momentos, a partir de dinâmicas políticas e culturais próprias. Em tempos de guerras culturais, tentativas de censura das artes e do ensino, especialmente de humanidades, nos vários níveis, a leitura de Um caso de polícia: a censura teatral no Brasil dos séculos XIX e XX permite ao leitor refletir sobre o passado e sobre o presente e compreender os meandros do autoritarismo socialmente implantado no Brasil.
José Miguel Arias Neto
Professor Associado da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e do Programa de Pós-graduação em História da UEL e da Unicentro.
É comum falarmos em censura tendo por princípio seus efeitos e de que maneira diferentes instrumentos de controle resultam nalgum tipo de restrição das liberdades humanas. Sociedades que foram construídas a partir de um grau de racionalidade tendo como base uma ética burocrático-jurídica fortaleceram tal interpretação na medida em que a censura foi apenas compreendida a partir de uma externalidade, de uma conformação institucional que rege a ordem da moral e dos costumes. Mas hoje essa compreensão tem sido posicionada noutros termos e a censura vem sendo analisada como um fenômeno de dimensão ampla, diversificada e ambivalente. Com essa premissa, o trabalho de pesquisa de Miliandre Garcia e Silvia Cristina Martins de Souza procura pormenorizar não somente os aspectos institucionais, mas também políticos, sociais e culturais do cerceamento da liberdade no espaço da produção teatral brasileira. Na primeira parte, intitulada “A censura teatral no Brasil Oitocentista”, as autoras apresentam como o Conservatório Dramático Brasileiro atuou, direta ou indiretamente, como instrumento oficial de controle das produções em dramaturgia no século XIX, bem como os debates que orientaram seus fins censórios. Já na segunda parte, “A censura teatral na ditadura militar”, o problema da censura teatral é analisado como parte do aparato de controle institucional, mas também como espaço de disputa sobre os limites da moralidade e como censor atuava como um agente a serviço de uma espécie de dirigismo cultural do Estado autoritário. Assim, a obra contribui decisivamente para compreensão do fenômeno da censura no campo da produção teatral e interpreta o ato censório como ação com múltiplas significações sociais e culturais.
Rodrigo Czajka
Professor adjunto do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Segunda orelha (sobre as autoras):
Miliandre Garcia é licenciada (UEL), mestre (UFPR), doutora (UFRJ) e fez estágios pós-doutoral (USP e UFF) na área História. Em 2007, publicou o livro Do teatro militante à canção engajada: a experiência do CPC da UNE (1958-1964), pela Fundação Perseu Abramo. De 2008 a 2009, desenvolveu pesquisa financiada pela Fundação Biblioteca Nacional, que resultou no trabalho Um intervalo entre dois atos: a censura teatral no Rio de Janeiro na transição das ditaduras (1945-1964). Foi professora adjunta da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades da UFVJM, campus de Diamantina, e professora adjunta do Departamento de História da UEL e, através de um processo de remoção, integra atualmente o corpo docente da UEPG. Também integra e orienta pesquisas no Programa de Mestrado em História da UEPG. Transita pelos seguintes temas: arte e cultura, engajamento artístico, ditadura militar, censura e autoritarismo, resistência e políticas culturais.
Silvia Cristina Martins de Souza possui graduação (Universidade Santa Úrsula), mestrado, doutorado (ambos na Unicamp) e realizou estágios pós-doutoral (UFF, UERJ e UFRJ) na área de História. Atualmente é professora Associada do Departamento de História da UEL e integra os Programas de Mestrado em História da UEL e da UEPG, onde leciona e orienta pesquisas. É pesquisadora do CNPq (PQ nível 2), da Sociedade de Estudos do Oitocentos desde 2005, da Brazilian Studies Association (2013) e foi avaliadora do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). É autora de As noites do Ginásio: teatro e tensões na Corte (1832-1868) (2002), O palco como tribuna: uma leitura de “O Demônio Familiar” de José de Alencar (2003) e Carpinteiros teatrais, cenas cômicas e diversidade cultural no Rio de Janeiro Oitocentista: ensaios de história social da cultura (2010) e Scenas Comicas de Francisco Correa Vasques (2017). Atua nos seguintes temas: história, cultura, música, política, literatura e teatro no século XIX.
Contracapa (resumo da obra):
Compreender a censura teatral no Brasil é o escopo central deste belo livro. As autoras demonstram a partir de vasta e primorosa pesquisa documental como é possível se fazer um trabalho de história na nossa longa duração sem se deixar cair no anacronismo – o pecado fatal do historiador nas palavras de Bloch – articulando memória, teoria, arquivos e censura em dois momentos: século XIX e século XX.
Investigando a atuação do Conservatório Dramático Brasileiro no século XIX e a complexidade da censura durante o regime militar no século XX, as autoras desvelam as relações entre homens de letras e polícia bem como, fugindo das dualidades simplistas, demonstram que os censores, para além do repressivo e punitivo tinham pretensões pedagógicas e educativas, fossem essas “o civilizar” no XIX ou a construção do cidadão “morigerado” e anticomunista no XX.
Neste sentido, o leitor descobre que bons costumes, moralidade, política e censura se articulam na longa duração da sociedade brasileira, em diferentes momentos, a partir de dinâmicas políticas e culturais próprias. Em tempos de guerras culturais, tentativas de censura das artes e do ensino, especialmente de humanidades, nos vários níveis, a leitura de Um caso de polícia: a censura teatral no Brasil dos séculos XIX e XX permite ao leitor refletir sobre o passado e sobre o presente e compreender os meandros do autoritarismo socialmente implantado no Brasil.
José Miguel Arias Neto
Professor Associado da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e do Programa de Pós-graduação em História da UEL e da Unicentro.